sábado, julho 23, 2005

7/7 e não só...

Ao contrario do que possam pensar, o anterior post nao foi premonitorio face aos mais recentes acontecimentos em Londres. Por isso, aqui fica um aviso a navegacao: Qualquer semelhanca com a realidade tratou-se de uma mera coincidencia, apesar deste meu aspecto meio paki, meio terrorista!

O dia 7 de Julho marcou pela negativa a vida londrina, que ha muito tempo nao assistia a um tao grande numero de vitimas provocado por ataques terroristas. Essa famigerada quinta-feira foi para mim uma experiencia marcante, embora nao tenha sofrido na pele o que cerca de 700 pessoas sofreram, entre as quais 54 vitimas mortais. Logo pelas 09:30h da manha quando foram noticiadas as explosoes no metro e nos autocarros, a primeira reaccao das pessoas em jeito de brincadeira foi: “Must be the french that are invading London, as we won yesterday the olympic bid!!!EhEhEh!”. Aos poucos foi-se apercebendo a origem dos atentados. Muitos dos meus colegas de trabalho entraram em histeria completa, pensava-se inclusivamente em passar a noite no local de trabalho. Por motivos de seguranca nao estavamos autorizados a sair do edificio ate por volta das 18:00h. Os transportes e ruas estavam praticamente cortados. Como estava atolado de trabalho, fui para casa relativamente tarde, por volta das 21:00h. As ruas estavam assustadoramente desertas, algo que nao se esta habituado a assistir na ‘City’.

As ultimas duas semanas que passaram tem sido um alerta constante, tendo a ultima culminado com uns quantos atentados sem sucesso em transportes publicos, bem como a morte a tiro pela policia de um suspeito (ao que parece nao era terrorista) na estacao de metro de Stockwell.

A semelhanca do que aconteceu em Madrid, Nova Iorque e Washington, os atentados de Londres revelam uma barbarie da mais reles e desprezivel. Se perguntarmos a um europeu o que pensa sobre o terrorismo ele vai imediatamente recordar as Torres Gemeas, Atocha e Londres. No entanto, curiosamente, poucos ou nenhum, recordarao os brutais massacres terroristas de que a populaçaoo iraquiana tem sido vitima diariamente, desde ha mais de um ano. De la surgem noticias de atentados que vitimam dezenas de pessoas e que a comunicacao social trata, cada vez mais, como mero pormenor, um qualquer efeito colateral, algo que tinha e tem de acontecer.

Os atentados de Londres, esses, foram exaustivamente noticiados e comentados, os culpados foram localizados, foram feitas detencoes, milhoes de libras estao encaminhadas para que se faca a tao desejada “justica”. No Iraque um atentado e certamente tratado como uma burocracia do dia-a-dia. E e esta diferenca que faz toda a diferenca. Para os Europeus, e em especial para os politicos europeus, um atentado em Londres, Paris ou Roma e diferente de um atentado em Kerbala, Bagdad, Bacora, Mossul ou Najaf.

Despoletado o mediatismo atraves da comunicacao social, o facto e que no dia seguinte aos atentados os europeus estavam com medo do terrorismo. O tal terrorismo que causou nos ultimos dois anos 250 mortos na Europa. Perante tal empolamento, os europeus esquecem-se que morrem milhares, todos os dias, nas estradas e de doenças como o SIDA e o cancro. Apesar do medo que se instalou, a verdade e que as probabilidades de um europeu morrer de uma septicemia ou de um futil erro medico sao bem maiores do que a de morrer num atentado terrorista.

Por outro lado, ha quem se preocupe com o facto de os terroristas serem jovens nados e criados na Gra-Bretanha. Mas ninguem se questiona pelo facto de o material explosivo ter tido origem militar e ser muito provavelmente produzido por um pais do G-8. Estes 8 paises sao, afinal, os produtores de 80% do armamento mundial. E, verdade se diga, sao estes paises e algumas das suas empresas, os maiores beneficiarios do clima de terror e de medo instalado pelos atentados de Madrid e de Londres e daqueles que ciclicamente se seguirao. A deriva securitaria que se sucede a tais acontecimentos faz subir em flecha os lucros de muitas empresas para quem a paz mundial e um pesadelo que preferem ignorar e que nao se coibirao de combater.

Os culpados dos atentados de Londres e de Madrid, ao contrario do que julga o cidadao comum, estao longe de ser aqueles jovens de nomes esquisitos que vemos impressos nos jornais de todo o mundo.

-E-

2 Comments:

At 11:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Percebo perfeitamente a sua indignação com todo esse "mediatismo" à volta dos atentados em Londres e mais recentemente no Egipto, e o silêncio a que são relegados outros tantos actos de terrorismo por esse mundo afora: o terrorismo da fame, das epidemias, do sub-desenvolvimento, do trabalho escravo ou quase, do desemprego, do tráfico de drogas, e do mais oficial e rentável tão bem referido no seu artigo: tráfico de armas.

Não é que não nos comova e revolte as cenas de dor, medo, e desolação em todos os locais e de todas as vítimas desses actos de barbarie e cobardia, que nenhuma pessoa minimamente informada atribui a uma religião que legou à humanidade conhecimentos seculares no campo da medicina e da matemática e outras ciências. Mas revolta também o facto de que a mesma ênfase não é dada a noticiar as tragédias que há décadas assolam várias regões do planeta.

Sei que parece discurso de intelectual de esquerda a beber imperiais no Procópio, mas repetir estas mesmas velhas palavras, mantém-nos despertos para a realidade à nossa volta e não apenas para a mediática, notícia de última hora, repisada até se transformar em pó,enquanto outra nova não surge.

 
At 11:51 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Percebo perfeitamente a sua indignação com todo esse "mediatismo" à volta dos atentados em Londres e mais recentemente no Egipto, e o silêncio a que são relegados outros tantos actos de terrorismo por esse mundo afora: o terrorismo da fame, das epidemias, do sub-desenvolvimento, do trabalho escravo ou quase, do desemprego, do tráfico de drogas, e do mais oficial e rentável tão bem referido no seu artigo: tráfico de armas.

Não é que não nos comova e revolte as cenas de dor, medo, e desolação em todos os locais e de todas as vítimas desses actos de barbarie e cobardia, que nenhuma pessoa minimamente informada atribui a uma religião que legou à humanidade conhecimentos seculares no campo da medicina e da matemática e outras ciências. Mas revolta também o facto de que a mesma ênfase não é dada a noticiar as tragédias que há décadas assolam várias regões do planeta.

Sei que parece discurso de intelectual de esquerda a beber imperiais no Procópio, mas repetir estas mesmas velhas palavras, mantém-nos despertos para a realidade à nossa volta e não apenas para a mediática, notícia de última hora, repisada até se transformar em pó,enquanto outra nova não surge.

 

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