A uma vela a arder
O estado de espirito de uma vespera...
Vela que em mares de esplendor navegas
por canduras brilhantes estendida,
até te esvaíres, toda esvaída,
e cega por brilhar, até que cegas;
se serena luz há, logo de anegas;
com a tormenta ficas submergida;
com breve sopro foges de tua vida
e com serena calma a teu fim chegas.
Tão sem memória vem teu ocidente
que, ao seres de breves cinzas breve cópia,
notícia não dará do que é luzente;
fumo será teu fim, pira não imprópria;
deixarás sombra em tudo, mas somente
não deixarás a sombra de ti própria.
Francisco de La Torre Sevil (? - 1680).
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