sexta-feira, janeiro 21, 2005

Global vs Local


E interessante a crescente internacionalizacao das empresas que se tem a vindo a assistir nas ultimas decadas. Cada vez que leio slogan do HSBC (Hong Kong and Shanghai Banking Corporation): "The world's local bank", leva-me a pensar (sim... de vez em quando tambem tenho estes raros momentos!) que a actual visao de estrategia e investimento internacionais das empresas tem caracteristicas peculiares. O que importa nos dias de hoje e pensar globalmente e actuar localmente. Esta articulacao entre os espacos local e mundial nao e nenhuma novidade. Esta ideia ja foi ostensivamente expressa por conhecidos gestores e empresarios. Curiosamente, foi um antigo presidente da Sony, Akio Morita, que introduziu o neologismo "Glocal", isto e, a concepcao de produtos para um mercado global e a sua posterior adaptacao aos gostos locais. Ate a decada de 90, a tendencia parece ter-se inclinado mais para a vertente global em detrimento da local. No entanto, muitas marcas de renome internacional nunca chegaram a ver a luz do dia, por nao se moldarem aos gostos locais. Sao bem conhecidas as gaffes de marketing cometidas por grandes empresas, que pura e simplesmente ignoraram os habitos ou as especificidades da lingua local.

Os desenvolvimentos da famigerada globalizacao e da economia do conhecimento conduziram a uma nova percepcao do nosso mundo quotidiano e em particular do mundo dos negocios. Houve claramente uma mudanca quanto a percepcao do espaco para o cidadao comum. A guerra do Iraque 'entra' nas nossas casas em real time, gracas a empresas born global (empresas que visam a partida o espaco mundial) como e o caso da CNN, BBC ou Sky. Por outro lado, temos a massificacao da internet, que nos permite dialogar nao so com os amigos mas tambem com os nossos parceiros de negocios, situados no outro lado do mundo. As mesmas redes de franchising estao presentes nos principais paises, propondo produtos ou servicos basicamente semelhantes, tirando partido dos desejos e padroes de consumo cada vez mais proximos. O que era, em tempos, a 'economia de aeroporto' tornou-se um facto do quotidiano.

O percepcao do tempo foi igualmente alterada. Este e cada vez mais rapido. O que conta e a comunicacao instantanea, a resposta rapida. O desenvolvimento de telemoveis da nova geracao, bem como as bandas largas da internet , e o reflexo de um tempo acelerado, em que nao se pode esperar. O ciclo de vida dos produtos tem-se vindo a contrair drasticamente. O desenvolvimento de novos produtos e, por isso, mais rapido. Esta logica conduz tambem a desvalorizacao da durabilidade. Alguns produtos nao sao substituidos em resultado da sua usura fisica mas da sua obsolescencia. O proprio desenvolvimento do comercio electronico e afectado pelo factor tempo: varios negocios tem falhado porque a velocidade de entrega nao acompanha a de encomenda, isto e, muitas vezes os sistemas de distribuicao nao estao preparados para a resposta rapida, quase imediata, pretendida pelos consumidores.

A globalizacao e, gostemos ou nao, uma realidade incontornavel, o que nao significa que os factores locais tenham perdido relevancia. A grande empresa multinacional procura hoje em dia orquestrar, num plano mundial, conhecimentos obtidos em locais distintos. Assim como o HSBC outras empresas sao verdadeiros paradigmas de empresas globais que abracaram o lema: " Think global, act local". A Coca-Cola nao poderia ser melhor exemplo disso. Nao sendo grande consumidor deste refrigerante, dizem os especialistas que este tem um sabor diferente de pais para pais, sendo os seus spots publicitarios muitas vezes adaptados aos gostos e culturas locais. De facto, a globalizacao uniformizou habitos de consumo, mas nao apagou os tracos culturais. Isto da cultura continua a contar num plano de mercado (nos produtos de consumo as diferencas culturais expressam-se em diferentes habitos de utilizacao e diferentes gostos, conduzindo a necessidade de adaptacoes nos produtos e nos instrumentos de promocao utlizados) e de gestao (a capacidade de gestao e contextual: as formas de motivacao de pessoas nao sao as mesmas em todos os sitios. A tolerancia face a ambiguidade ou a aceitacao da autoridade variam consoante as culturas). Apesar de tudo, o local continua a ser fundamental como base de inovacao e de captacao de conhecimento.

O facto de desempenhar a minha actividade profissional num banco global, multinacional ou transnacional (como preferirem...) levou-me a aperceber de uma nova tendencia que se esta a expandir por entre as mais respeitaveis instituicoes financeiras. Caso nao saibam a actividade financeira de um banco e composta por duas grandes vertentes: o front-office (areas comerciais, trading, vendas) e o chamado back-office (Areas de suporte, operacionais, informatica, servicos financeiros). O front-office nao podera existir sem o back-office e vice versa. A mais recente tendencia consiste em transferir grande parte das areas de back-office, bem como as funcoes a estas inerentes, para paises como a India, onde mao-de-obra e bem mais barata e sobrequalificada. Esta transferencia tem sido feita sempre numa base de outsourcing, por forma a reduzirem-se os custos operacionais e a extinguirem-se quaisquer vinculos/compromissos laborais com os trabalhadores. Tratando-se de instituicoes globais, a passagem de funcoes tera obviamente impacto nos paises onde estas tem presenca, tendo as respectivas filiais ou subsidiarias que se reger pelas directrizes estipuladas pela casa-mae. Ora, assim sendo e muito devido ao desenvolvimento da chamada economia do conhecimento, o fenomeno 'glocalizacao' so devera afectar a forca de vendas, dado que o outsourcing passou a constituir um elemento primordial na estrutura da empresa, cuja gestao nunca mais sera a mesma caso este venha para ficar.
-E-