sexta-feira, dezembro 31, 2004

2004


De volta a Londres, a poucas horas de findar mais um ano e ca estou eu a trabalhar... De facto, penso sempre que o ultimo dia de cada ano devera ser passado da melhor maneira possivel, sem rotinas ou chatices, mas tenho a sensacao que isso nunca acontece e o 31 de Dezembro acaba por ser como qualquer outro dia.

E tarefa dos jornalistas fazer a revista do ano, na qual salientam os principais acontecimentos que marcaram o ano. Gostaria, no entanto, de salientar aqueles acontecimentos que para mim marcaram a actualidade nacional (portuguesa, esta claro!) e internacional, Economia e Desporto, deixando para o fim o obvio acontecimento, de cariz pessoal, que marcou profundamente este ano.

A actualidade nacional assistiu a tumultuosos acontecimentos que fizeram noticia. Na minha opiniao, o mais marcante foi a queda do Governo e dissolucao da Assembleia da Republica por Jorge Sampaio. A polemica que envolveu a nomeacao de Santana Lopes para o cargo de Primeiro-Ministro, fez com que o governo passasse a estar debaixo de olho por parte do Presidente da Republica. Passados quatro meses, Sampaio entendeu que demasiados episodios puseram em causa a credibilidade dos orgaos de governacao, entre os quais a demissao do Ministro do Desporto, Juventude e Reabilitacao. Esta foi a gota de agua necessaria para que Sampaio dissolvesse o parlamento a 30 de Novembro, convocando eleicoes antecipadas. O novo executivo sera escolhido apos as eleicoes de 20 de Fevereiro de 2005, embora o orcamento de estado para o mesmo ano ja tenha sido aprovado.

No ambito internacional, pretendia escolher a morte de Yasser Arafat como acontecimento do ano. Entretanto, uma inesperada e recente tragedia teve lugar no sudoeste asiatico. O maremoto na Asia, tendo sido o maior sismo das ultimas quatro decadas, ocorreu a 26 de Dezembro em sete paises do sudoeste asiatico gerando mais de 125 mil mortos (confirmados). Nada mais ha a acrescentar, as imagens transmitidas pela televisao falam por si. Para os sobreviventes desta catastofre, resta apenas a esperanca no que diz respeito normalidade das suas vidas, dado que para alem dos bens materiais, familias inteiras desapareceram. E eu a queixar-me pelo facto de estar a trabalhar neste ultimo dia do ano...imagine-se as pessoas que neste momento sofrem com a perda dos seus familiares. Que tragica forma de terminar o ano...

A valorizacao do Euro esta, quanto a mim, no topo da lista de eventos do sector economico-financeiro. O Euro tem registado neste ano sucessivos valores historicos face ao Dolar. No inicio de Novembro, a moeda unica europeia chegou a cotar-se nos mercados a 1,2986 dolares, batendo assim o seu primeiro recorde. No ultimo dia daquele mes chegou a fixar-se nos 1,3336 dolares. Dizem os especialistas que este fenomeno cambial deve-se a descida de confianca por parte dos consumidores norte-americanos para o minimo de nove meses, o que despoletou novos aumentos e variadas oscilacoes em alta da moeda europeia.

No Desporto, o Euro 2004 e o meu acontecimento de eleicao. Apesar de nao ter estado em Portugal na altura, sei que o pais viveu uma verdadeira euforia nacional como ha muito nao se via, apesar da incontornavel derrota com a Grecia. Assistiu-se a um autentico fenomeno social, que mais nao foi que uma demonstracao do orgulho nacional a contrastar com o ja mencionado 'nacional porreirismo', em que tudo o que e estrangeiro e melhor. A capacidade lusitana de assimilar/adoptar a cultura alheia foi definitivamente suplantada por essa onda de euforia nacional, com a proliferacao de bandeiras e outros simbolos nacionais de norte a sul do pais.

Em termos pessoais e como era de prever, o acontecimento do ano foi a minha mudanca para Londres de 'armas e bagagem'! Enfim, este ano ficara para sempre na minha memoria e mais nao digo!

Depois de tudo o que se passou em 2004, so temos que dar as boas-vindas ao novo ano. Que venha 2005 e tudo o que nele vai acontecer!...E que venha rapido para se acabar com as incertezas. So os mais ingenuos teimam em acreditar que os anos seguintes sao melhores ou piores que os anteriores. Sao apenas imprevisiveis. Tudo pode acontecer, o bom e o mau. Este 2005 esta repleto de incognitas, para todos e para cada um. Enquanto uns pedem coragem, os demais anseiam mudancas.

Feliz Ano Novo!

-E-

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Lisbon's calling!

Experiência... Som…1,2. Cá estou eu em Lisboa. Cheguei há quase uma semana e ainda não parei um segundo por entre jantares, saídas a noite, corridas e infindáveis compras. Só hoje tive a oportunidade de ‘vegetar’ por alguns momentos em casa, o que sabe sempre bem.

Embora seja um recente ‘emigra’, acho que Lisboa não sofreu grandes mudanças, exceptuando uma ou outra obra e a usual decoração urbana da época. O grande choque foi mesmo à chegada no aeroporto, onde a desorganização e o improviso são a palavra de ordem. Enfim...nada que não estivesse a espera. Apesar de tudo, Lisboa continua a ser Lisboa, com uma noite fantástica, de fazer inveja a muitas outras cidades europeias. O tempo tem estado maravilhoso, sem muito frio, nada que se compare à gelada Londres.

O meu estado de espírito não podia estar melhor e há muito tempo que não ansiava tanto pelo Natal, o qual será certamente, por motivos óbvios, vivido com intensidade.

Relembrando um professor de Historia do liceu: Feliz Natal aos Vivos e Boas Festas a todos!

-E-

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Perfect Day


Estou em contagem decrescente para ir a Lisboa passar o Natal. Apesar de nao ser para mim das epocas mais felizes, so o facto de regressar a casa, rever a minha familia, amigos e Lisboa em si, e motivo suficiente para contar cada segundo que passa. E impressionante o efeito que o tempo tem nas pessoas. Para mim o tempo e algo que marca a passagem para um bom momento. Neste caso, o fim justifica o meio. O facto de se ter que passar por momentos mais dificeis ou menos agradaveis e quase que obrigatorio para se atingir os momentos que mais ansiamos e que para nos tem maior significado. E como se buscassemos indefinidamente uma recompensa, material ou nao. O ser humano tem destas coisas, para alem de vil, e o ser vivo mais egoista a face da terra. Nada do que fazemos e por puro altruismo. Ate pelo facto pensarmos que estamos numa determinada altura da nossa vida a ajudar o proximo, considerado por muitos como um acto altruista, fazemo-lo e certo para ajudar os outros, mas como fim ultimo de nos sentirmos bem connosco mesmos ou de simplesmente sermos mais bem aceites pelos outros. O mesmo acontece no ambito profissional, quando temos um determinado projecto em maos, procuramos ser bem sucedidos e ultrapassar todos os obstaculos. Poderemos ou nao ser premiados pelo sucesso do mesmo, mas ambicionamos sempre a tal sensacao de missao cumprida que nos vai alimentando o ego, a auto-estima e a motivar-nos para novos desafios.

Como em todos os bons momentos, perdemos a nocao do tempo e este simplesmente voa. Foi exactamente nisto que pensei durante passado fim-de-semana (entre outras coisas, claro esta!). A hora da despedida tem sido ultimamente para mim quase cortante, como nunca fora antes e, apesar de nao ter partido ainda para Lisboa, ja estou a pensar no que me vai custar o regresso. Cliches a parte, a vida tem que ser vivida em cada momento, como se cada dia fosse o ultimo. Como e obvio, nada disto e real e tudo nao passa de uma utopia. Gostaria, no entanto, de ter a capacidade de faze-lo, isto e, de nao pensar muito no dia de amanha.

No fundo buscamos todos a felicidade, que por sua vez e ditada pela nossa subjectividade e livre arbitrio. Sendo o dia feito de bons e maus momentos, para mim a definicao do dia perfeito so poderia encontrar-se nas palavras do mestre Lou Reed, ex-frontman dos Velvet Underground, precisamente com o tema 'Perfect Day', entretanto revisitado pelos Duran Duran, algures nos anos 90:

"Just a perfect day,
Drink Sangria in the park,
And then later, when it gets dark,
We go home.
Just a perfect day,
Feed animals in the zoo
Then later, a movie, too,
And then home.

Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

Just a perfect day,
Problems all left alone,
Weekenders on our own.
It's such fun.
Just a perfect day,
You made me forget myself.
I thought I was someone else,
Someone good.

Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

You're going to reap just what you sow."

O proximo ponto de encontro sera indubitavelmente neste blog, mas desta vez de Lisboa!

-E-

quinta-feira, dezembro 02, 2004

A comunidade 'asiatica' no Reino Unido

Tudo comecou com o destacamento de medicos da India para o Reino Unido, por alturas dos anos 60. Desde entao, a sociedade britanica nunca mais foi a mesma, A semelhanca do que aconteceu com a imigracao da populacao proveniente da ex-colonias portuguesas, os indianos sao parte integrante do actual 'british melting pot'. Tres tipos de movimentos migratorios sao normalmente associados a comunidade indiana: Os medicos nos anos 60, na decada de 70 e 80 a populacao em geral das antigas colonias inglesas (Uganda, Kenia, Malawi) e os 'Banglas' provenientes do Bangladesh.

A falta de medicos no Reino Unido, levou o governo ingles a abrir a titulo excepcional as suas fronteiras, por forma a cobrir as enormes deficiencias dos servicos publicos de saude. Esta tendencia migratoria ainda hoje se mantem, dado que a maior parte dos ingleses formados em medicina emigra para os EUA, em busca de melhores condicoes.

Os anos 70 e 80 assistiram a um significativo surto de imigracao. Grande parte das pessoas provenientes da chamada Africa inglesa, optou pelo Reino Unido como pais de acolhimento. Estas pessoas que outrora haviam emigrado para Africa, eram maioritariamente pequenos comerciantes. Aquando da sua vinda para o Reino Unido, depois de passarem por um natural, e para muitos dificil, processo de adaptacao, foram-se estabelecendo paulatinamente na sociedade britanica. Muitas familias continuaram o legado do comercio ja instaurado em Africa. Criou-se uma verdadeira instituicao com as chamadas 'cornershops', lojas de esquina que vendem quase tudo durante sete dias da semana.

Outro grande movimento migratorio, foi o da populacao oriunda do Bangladesh. Por incrivel que pareca, a industria indiana de restauracao no Reino Unido como a conhecemos hoje, foi fundada pelos 'Banglas'. Com menos qualificacoes que os indianos propriamente ditos, aventuraram-se por terras de Sua Majestade, contribuindo para uma verdadeira divulgacao da comida indiana (inicialmente com alguns travos 'banglas') ao agucar nos ingleses o gosto pela mesma.

Ainda hoje, o ingles tem uma imagem pre concebida do 'asian' (termo pouco feliz muito utilizado por estes lados e que se refere a pessoas com origens etnicas no sub continente indiano, Bangladesh, Paquistao e Sri Lanka) como sendo aquele pacato comerciante que raramente tem dias de folga. No entanto, com as segundas geracoes, a realidade e bem diferente, ou seja, cada vez mais os descendentes dos que deram origem aos primeiros movimentos migratorios, (muitos deles ja nascidos no Reino Unido) desempenham outros tipos de profissoes. Referindo-me unicamente aos indianos, como todos os pais, estes querem o melhor para os filhos. Muito ainda por influencia do sistema de castas da India, e sonho de qualquer indiano que o seu filho ou filha (mas principalmente filho) seja um distinto medico ou advogado. Ha, de uma forma geral, um grande investimento na educacao (muitas vezes feito a custa de muitos sacrificios), por parte dos pais em relacao aos seus descendentes.

No que diz respeito as geracoes mais novas, estas numa primeira fase, sentindo-se desenraizadas de uma cultura e religao predominantemente hindus (nao esquecendo as religioes Sikh e Muculmana) e muitas vezes vitimas de descriminacao, comecaram por renegar as suas origens. Hoje em dia, o ritual de se jantar num restaurante indiano as Sextas-Feiras e quase sagrado para os ingleses. De facto, tem-se assistido nos ultimos tempos, a uma verdadeira massificacao da cultura indiana nao so atraves da culinaria, como e obvio, mas tambem pela difusao de outros sectores do meio artistico, tais como cinema ( de salientar que a India detem a maior industria cinematografica do mundo, a chamada 'Bollywood') e musica. Enfim, pode-se dizer que os indianos vieram para ficar, pelo menos no que concerne o Reino unido. Com tudo isto, ja as terceiras geracoes tem muito orgulho (pelo menos aparentam) na sua ascendencia. Nao querendo cair em extremos, ate e muito 'cool' ser-se 'asian'.

Quanto a minha pessoa, por razoes obvias tambem sou considerado um 'asian' emigrante. Queria, no entanto, salientar, para aqueles que ainda nao me conhecem bem, que tenho ascendencia goesa, dado que os meus pais sao naturais de Goa. Para os menos esclarecidos, Goa situa-se na India e e uma antiga colonia portuguesa. Ao afirmar que sou descendente de goeses e nao de indianos, apesar de Goa fazer parte do territorio indiano, quero com isso dizer que se tratam de culturas e visoes de vida completamente diferentes. Tendo sido aculturada pelos portugueses, ainda que os lacos com a nacao lusa tenham sido cortados ha ja algum tempo (1955), Goa e uma das regioes mais ocidentalizadas da India, muito devido a sua Historia. Goa tambem nao escapou a Inquisicao que teve inicio em 1560. Para alem de ambicionarem as especiarias, os portugueses procuraram cristianizar ao maximo esta regiao. Assim sendo, o catolicismo foi imposto com a mais completa erradicacao de todos valores e costumes hindus vigentes na altura, atraves de medidas repressivas, multas, demolicao de templos e mesquitas, destruicao de livros sagrados e ate coversoes forcadas de orfaos. Apesar deste triste passado, tenho muito orgulho nas minhas origens. Ja estive varias vezes em Goa bem como em outras regioes da India. Para alem de ser um famoso destino turistico (o que nem sempre e vantajoso, dado que se vao perdendo muitos dos tracos originais), Goa tem uma beleza invulgar e pouco ou nada se assemelha as demais regioes indianas, provavelmente pelo facto de ser um ponto de encontro entre o ocidente e o oriente.

-E-