Untitled # 8
Nesgas agudas do areal
E gaivotas que voais em redor do navio,
Tornai o meu cérebro mole,
- Esmeralda viva do Canal
E desertos inundados de sol! -
Meu pobre cérebro inconsequente e doentio!
No qual uma rede se desenha,
Complicada de sofrimentos irregulares
- Águas que filtrais na areia! -
Antes que o crepúsculo venha,
O crepúsculo e as larvas tumulares,
A impureza inútil dissolvei-a.
Que o sol sem mancha, o cristal sereno,
Volatilize ao seu doce calor
A fria e exangue liquescência.
Um hálito! Não embaciará de veneno
Indecisa, incolor
Do azul o brilho e a viva transparência.
Recortes vivos das areias,
Tomai meu corpo e abride-lhes as veias.
O meu sangue entornai-o,
Difundi-o sob o rútilo sol,
Na areia branca como um lençol,
- Ao sol triunfante, sob o qual desmaio.
Camilo Pessanha (1867-1926)